A Crise de Meia-Idade do Profissional de TI e a Surpresa do Python
Ultimamente, a sensação é de que a gente atingiu uma espécie de platô. Uma estagnação que não é técnica, mas de arquitetura. A última grande “trend” foi, na minha visão, uma espécie de armadilha: a migração dos data centers para a nuvem. Em uma analogia, é como se todos os proprietários de casas migrassem para o aluguel.
Sempre fomos os “donos” da nossa aplicação. Tínhamos nossos próprios servidores, nossa infraestrutura, e essa propriedade nos dava uma sensação de controle, de que realmente éamos os arquitetos de algo. A gente podia meter a mão na massa, sujar as mãos com código e configuração. Hoje, usamos a cloud, e com isso, deixamos de ser os donos para nos tornarmos inquilinos. E sejamos justos, se você roda algo em uma função no Azure e precisa migrar para a AWS… bem, boa sorte. Essa portabilidade prometida muitas vezes se traduz em uma verdadeira dor de cabeça.
A gente perdeu um pouco daquela sensação de que está construindo algo. A comunidade do Linux, o espírito do open source, a diversão de fazer algo do zero… isso me trazia uma satisfação imensa. Hoje, o mercado é muito mais drivado por produtos e menos por comunidade. Se não está em um produto ou ferramenta mainstream, muitas vezes nem sequer é levado em consideração.
O Cansaço das Buzzwords e o Questionamento
Eu venho de uma época em que o Linux e a comunidade eram o coração da tecnologia. Eu sempre estive em busca de novos desafios e coisas para estudar, mas as novas buzzwords simplesmente não me parecem apetitosas. A cada nova conferência, uma avalanche de siglas e conceitos que prometem revolucionar tudo, mas no fundo, parecem apenas variações de algo que já conhecemos.
As últimas tendências são 100% voltadas para a inteligência artificial. Eu acredito que, em algum momento, a IA pode dar certo de forma significativa, mas essa obsessão pela substituição do trabalho humano me desanima. Eu sempre gostei de fazer, de construir, de ver algo sair do papel e se tornar realidade. A ideia de que uma IA vai fazer isso por mim não me atrai. Me pergunto, será que estou ficando velho? Ou estou apenas cansado de correr atrás de coisas que não me dão mais prazer?
A gente chega a uma idade em que a energia para aprender do zero já não é a mesma. A gente se acostuma com o que sabe fazer bem, e a ideia de mergulhar de cabeça em uma nova tecnologia pode parecer uma montanha impossível de escalar.
O Inesperado Reencontro com o Python
Em meio a essa crise de meia-idade tecnológica, algo inesperado aconteceu. Eu me peguei revisitando o Python. Uma linguagem que eu sempre soube usar, mas que nunca havia me aprofundado de verdade. E o que eu encontrei foi algo surpreendente.
O Python, com sua sintaxe limpa e sua vasta biblioteca de pacotes, me mostrou que ainda há muito o que aprender e construir. Mas o mais importante, me reconectou com aquela sensação de comunidade. A comunidade do Python é gigante, acolhedora e está sempre evoluindo. Pude encontrar pessoas que compartilham do mesmo entusiasmo em resolver problemas de forma elegante e direta.
Eu percebi que o problema não era o meu cansaço, mas sim a direção que o mercado estava me forçando a seguir. Eu não precisava abraçar a próxima buzzword para me sentir relevante. Eu só precisava encontrar um lugar onde a paixão por fazer e construir ainda estivesse viva.
E foi no Python que eu reencontrei essa paixão. Agora, meu objetivo não é apenas aprender mais sobre a linguagem, mas também me aprofundar na sua comunidade, contribuir para projetos open source e me conectar com pessoas que, como eu, acreditam no poder da colaboração. O futuro não precisa ser sobre “o quê”, mas sobre “com quem”. E o Python me mostrou que, no fim das contas, a tecnologia é sobre pessoas.